segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Meio Ambiente, Trabalho e Energia


Artificialismo

Na aula passada discutiu-se a natureza do humano e os projetos criados por esta natureza iniciados no século XVII (projetos de poder e controle sobre a natureza), compreendendo a atualidade (a partir dos anos 2000) como momento intermediário da transição da natureza original para uma natureza artificial. Então quando abri a proposta existe natureza humana? Tentei fazer com que vocês chegassem ao se depararem com a problemática defendessem um ponto de vista, uma proposta que atendesse as necessidades físicas e psicológicas, naturais e artificiais da modernidade e dominação qual a natureza se encontra. Hoje nos interessa nos aprofundar um pouco mais nessa temática e nela perceber o meio ambiente, trabalho e energia.
Faz 200 anos que as ciências nos fez acreditar que somos descendentes dos animais. Então nós nos sentimos parte da natureza. Ao estudar história, geografia, informática; podemos perceber que os militares e as ciências seguem desde o final da Segunda Guerra Mundial os Princípios do C³I ou do 3C I (Comando, Comunicação, Controle e Informação) e isto faz com que a ciência do nosso tempo veja as pessoas como cyborg. Cyborg é um termo traduzido do inglês que significa organismos cibernéticos. O cyborg, o superhomem, o pós-humano seria então a evolução máxima imaginada em nosso tempo para a espécie humana.
De fato a natureza por si só, sofre mudanças. O humano e sua artificização da natureza aos poucos, comanda, comunica, controla e informa não somente a fauna, a flora, os animais não humanos e todo tipo de vida natural existente, mas também comanda, comunica, controla e informa as mudanças “necessárias” a própria natureza. Assim, nos damos conta que somos um termo em transição (da origem animal para o cyborg). Um ser humano no mundo cibernético tem funções sociais de agenciamento de informação. A dimensão da realidade virtual é parte da dimensão virtual da realidade, seguindo o biólogo Edward O. Wilson (1996) uma planta é para nós como um software. Lamenta-se que a floresta, que “esta biblioteca maravilhosa que é a floresta tropical está desaparecendo e ela está desaparecendo antes mesmo que nós pudéssemos ler estes livros que é esta biblioteca viva [...] agente precisa conhecer esta informação, precisamos preservar isso”.
O desaparecimento da floresta que se lamenta não é um desaparecimento físico em si, mas dela desaparecer antes mesmo de a floresta poder ser lida e ter sido coletada todas as informações. Destas informações que se criam combinações e recombinações da informação digital de genética, ou seja, a diferença que faz a diferença, isto é, diferentes agenciamentos – ela é ao mesmo tempo molecular e global. A ciência trabalha hoje com a combinação e recombinação de um patrimônio genético, de um banco de informação finito para a criação infinita de materiais.
Bom, com a cientificidade de hoje somos vistos enquanto humanos como cyborg, mas somos um ser em transição porque parte de nós ainda se sente animal, ainda estamos nos tornando cyborg. A medida das coisas passa a ser informação. Neste sentido, revistas, jornais e todos os meios de comunicação que apontam o progresso da tecnociência, da criação de uma nova biodiversidade, desta transição para a cibernética, voltar para trás é impossível. Então, EU quero ser um Cyborg de oposição a informática da dominação. Esta reflexão é interessante, pois lida com como a tecnociência e como ela desconstrói a natureza humana e transforma as pessoas em cyborgs. Se vamos aceitar ou não a desconstrução da programação da natureza sobre o ser humano pela tecnociência não é uma decisão do indivíduo, entretanto, como esta ocorrerá pode sim ser a diferença que impeça o controle total e extremo sobre a natureza. O novo mundo precisa ser questionado. A sociedade não tem comumente o caráter questionador da introdução da tecnologia na vida privada e ainda deixa a critério da ciência que tipos de questões a sociedade deve levantar para si, isto faz com que o livre arbítrio seja algo muito premeditado e neste sentido é presumível ou pelo menos tendencioso a compreensão do caminho da sociedade pós-moderna que se deixa orientar pela necessidade do capitalismo global.

Sustentabilidade: da sombra ao brilho
Pensar em ser oposição à dominação é entender que nós não somos seres que simplesmente se organizam para reproduzir nossas condições materiais, mas somos seres que vivemos também para buscar sentido em nossa vida. O humano não é simplesmente um ser racional que cria sua condição de existência, mas é um ser que cria valores simbólicos, que cria cultura.
Assim como se pode afirmar que a realidade é feita por luz e sombra, pessimismo e otimismo, o bem e o mal, o certo e o errado, o justo e o injusto, o dia e a noite, isto é, com dualidades, assim também devemos nos atentar ao conceito de sustentabilidade. O que é sustentabilidade? É uma sociedade futura, é um projeto histórico com o olhar para o futuro que visa elucidar o que falta para sermos sustentados.
Comumente, nos atentamos apenas para o lado pessimista da sustentabilidade: todo dia cria-se uma lista do que ainda não somos; todo dia vamos fixar nossa identidade de sermos insustentáveis; o quanto falta para chegarmos a uma sociedade sustentável; não cuidamos dos nossos recursos naturais como devíamos; não temos o consumo responsável como devíamos; não temos uma produção suficientemente limpa; nossos governantes não são suficientemente eficientes nem comprometidos e assim vamos construindo um muro das lamentações e só enxergaremos o lado frio e sombrio da sustentabilidade onde estamos à beira do abismo, à beira de uma catástrofe sem precedentes que de alguma forma todos nós ou morreremos ou de alguma forma seremos tragicamente afetados.
O conceito de sustentabilidade surge nos anos 60 na disciplina da Ecologia de População. O conceito foi sendo elaborado a partir da observação da necessidade do equilíbrio entre uma determinada população de animais e plantas e o seu meio biótico e abiótico. Os biólogos observavam que se os animais e plantas em seus processos de cooperação e de competição formavam populações sucessionais que competem ou cooperam entre si no acesso aos recursos como água, oxigênio, CO2, minérios, entre outros e percebiam também que quando qualquer desequilíbrio acontecia em um ambiente, àquelas populações entravam também em desequilíbrio e isso era início de um colapso, um processo de extinção de uma espécie até a extinção de uma população de fato ou, ainda, a adaptação e transformação do ambiente, logo de toda a população.
Seguindo esta linha de reflexão que em 1979 Arnold Toynbee, um importante economista inglês escreve a obra “Humanidade Mãe Terra”. Toynbee acredita que são dois os motivos que levam as grandes civilizações ao fim: o primeiro é o colapso dos recursos naturais e o segundo é a crise dos valores morais. Ainda, afirma que observando estas sociedades é possível dizer que há três tipos de grupos com respostas para as crises de civilização: primeiro são os passadistas ou conservadores, voltam-se para o passado, buscam no passado respostas para os problemas que ocorrem em seu presente, contudo, a resposta para o passado é parcial, o tempo é inexorável (que não se move, não muda); o segundo são os escapistas ou retirantes, negam os problemas por não ter votado em seu presidente, por não gostar dos hegemônicos, não estão nem aí com o sistema financeiro vigente, estes se retiram do mundo; e por último há um terceiro perfil psicológico que lideram as transformações sociais civilizatórias que são os visionários, estes sentem o desconforto da crise, sentem o mal estar da civilização, mas sabem que não é no passado que irão encontrar respostas para os problemas, também sua consciência moral, seu senso de responsabilidade não os deixam abandonarem o barco, se retirarem simplesmente, ainda não são todos os visionários que lideram as mudanças, embora acreditem e mobilize toda sua energia criativa para a mudança, alguns são capazes de sustentar a visão e outros não.
            Quando se fala em sustentabilidade, não se trata de salvar o planeta, mas se trata de salvar a nossa pele, o reinício de uma humanidade. E como é que nós seres humanos resolvemos nossos problemas materiais de existência de sobrevivência? Com bens tangíveis (roupa, alimento, casa, móveis, automóvel, etc.), e bens intangíveis (ser amado, sentir-se seguro, ser confiante, ter alegria...). A era da informação como medida de todas as coisas faz com que as pessoas no processo de produção da condição de existência, também produzam para si doenças, a sociedade produz doenças. Não há como se falar em sustentabilidade sem falar naquilo que nós comemos, sem pensar em nosso ambiente, não se debruçando sobre a escassez relativa de certos recursos naturais ou em como lidar com os recursos não renováveis.
Apesar do avanço do conhecimento que é amplamente construído no entorno dos alimentos, nós nos alimentamos cada vez pior. Motivos: a cada dia nós comemos coisas mais processadas e alimentos processados não são vivos, não trazem vitalidade, não ajuda repor a energia que precisamos ter. Nós temos pressa em comer, não sentimos mais os gostos dos alimentos, comemos por estética, beleza, pelo estímulo do ofato, necessitamos de certo grau de sociabilidade para nos alimentar. Os alimentos com agrotóxicos diminuem nossa vitalidade, diminuem a fertilidade da terra e colabora para as mutações genéticas das pragas, vírus e bactérias.
No século XX os esforços para a saúde determinam dois tipos de terapêuticas: a que remedia e a que previne. A que previne diagnostica os problemas e cria vacinas, sempre precisamos de um médico para nos avaliar e medicar. Entretanto, não precisamos de um profissional para prevenir doenças. Dormimos tarde, acordamos cedo. Nós ligamos a televisão para não pensar, para nos anestesiar, acessamos a internet para passar o tempo, nos estressamos com a família e amigos sem resolver os problemas, fazemos o que não queremos profissionalmente em troca de uma possibilidade de fazer o que desejamos... Nós precisamos dar atenção a nós mesmos! Não adianta tomar vitaminas ou remédios antiestresse.
Será que se olhássemos a natureza a nossa volta encontraríamos a nossa farmácia natural? A farmácia natural a que me refiro não são as plantinhas e ervas, mas o ar limpo, o cheiro de mato, a água limpa de rios, lagos e cachoeira, pisar descalço na terra, vários os elementos que integram o homem ao seu ambiente natural e podem ser terapêuticos.
Se, comemos e nos sentimos estufados sempre, se pensamos em nosso trabalho e não temos prazer em fazer o que fazemos se só discutimos com nossos amigos e com nossa família, é lógico que não se está bem. Por isto precisamos dar atenção a nós mesmos para saber que tipo de prazer eu posso ter com a vida e que tipo de prazer eu posso evitar.
As pessoas depois de um ano de muito trabalho e de rotinas exaustivas buscam nas férias atividades que possam curtir e sair da rotina. Atravessam o trânsito intenso de São Paulo, descem de rapel, escalam montanhas, fazem trilhas, pulam de paraquedas, fazem raffiting e se a pessoa não enfartar, volta pra casa exausta, isto é, tem menos energia do que antes de todas as experiências “fora da rotina”. E como se repõe esta energia? Precisamos repensar o nosso lazer, existem hoje uma gama de possibilidades que permitem a pessoa sair da rotina, gastar energia em um processo democrático, todos não são obrigados a fazer a mesma coisa até porque existe dentro da academia ou de uma associação atlética, ou mesmo um clube uma série de exercícios que você pode escolher.
Sustentabilidade aqui e agora é saber dizer não aquilo que nos faz mal. É procurar alternativa para aquilo que nos faz bem, que faz bem a saúde, à autoestima.
É necessário nos atentarmos para como a sociedade também se organiza em redes de colaboração e não só a de competição. Nós temos hoje no Brasil 5200 organizações não governamentais. Estas organizações não olham simplesmente para si, não visam alimentar o ego de alguém, mas ajudar plantas, animais, as pessoas excluídas ou que possuem alguma desvantagem contextual. Estes comportamentos são valorizados pela sociedade e fazem bem tanto para o público beneficiário, como para quem pratica a ação, pois mexe com a autoestima. A baixa autoestima é não perceber o nosso sentido, a nossa utilidade, isto ainda serve como porta de entrada para depressão. Cultivar sentimentos animais que fazem parte da natureza humana e elevam a autoestima, é importante para desenvolver seres humanos melhores e uma sociedade melhor. 

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